outubro 17, 2011

Sermão de santo António aos peixes: "Vos estis sal terrae".

Vos estis sal terrae
Sé de Lamego (foto minha)
Este é o conceito predicável, isto é, a pequena frase retirada do Evangelho de S. Mateus, que servirá de Tema/Tese ao Sermão e, a partir do qual irá desenvolver a sua argumentação (início do exórdio).

Vós sois o sal da terra: os pregadores são o sal, a terra os homens.

O sal impede que os alimentos se estraguem;
Os pregadores impedem a corrupção;
Mas a terra está corrupta/ "estragada"--- de quem é a culpa?

Pode ser atribuída a duas causas: o pregador não prega em condições a palavra de Deus/ a terra não "ouve" a palavra do pregador.
O raciocínio é lógico, desenvolvido como se fosse um silogismo: premissas e conclusão. ( Todo o homem é mortal/ Sócrates é homem=» Sócrates é mortal).

Expansão/ amplificação do argumento:
Os pregadores não "salgam" porque:
  • não pregam a verdadeira doutrina; ou
  • dizem uma cousa e fazem outra; ou
  • se pregam a si e não a Cristo.   
A terra não se deixa "salgar" porque:
  • os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber; ou
  • os ouvintes querem antes imitar o que eles[pregadores] fazem, que fazer o que dizem; ou
  • os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites.
Veja-se, então:
  • a construção anafórica, "simétrica", paralelística:" ou é porque.. ou é porque...."
  • a utilização dos conectores disjuntivo e causal: "ou..ou"; "porque";
  • a antítese que se gera a partir do desdobramento das hipóteses: os pregadores não pregam# os ouvintes não "ouvem".
Toda esta argumentação foi desencadeada por uma interrogação retórica:"...qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?", através da qual capta a atenção do auditório/público, tornando-o interventor do discurso, como que apelando à sua aproximação e presença. Não esquecer que se trata de um discurso de 2ª pessoa ( pronome pessoal, plural: vós).
Termina este 1º parágrafo, em crescendo prosódico, em "euforia", novamente com uma interrogação retórica: "Não é tudo isto verdade? " para, seguidamente, na resposta, haver uma quebra rítmica com uma resposta breve, abrupta e exclamativa: "Ainda mal!"
De destacar, ainda, o uso sucessivo da vírgula, o assíndeto, que torna quase hipnótica e "pendular" a enumeração dos argumentos, num ritmo gradativo.
(da minha autoria)

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