janeiro 30, 2013

Frei Luís de Sousa, I Ato

Espaço: "câmara antiga", Almada, palácio de Manuel de Sousa.
Tempo: "fim da tarde", "princípios do século dezassete".
.
.Topoi("tópicos"):
Teatro D. Maria II
 
  • Reflexões inquietas de Madalena: lê excertos de Os Lusíadas de Camões, episódio de Inês de Castro, o que a leva a meditar sobre o caráter efémero da felicidade e do amor;
  • A importância do passado: do diálogo entre Telmo e Madalena ficamos a saber que Madalena foi casada com D. João de Portugal e que ele "desapareceu" em Alcácer Quibir, tal como D. Sebastião, quando ela tinha apenas 17 anos. Procurou-o durante 7 anos e, seguidamente, casa com o homem que já amava, Manuel de Sousa Coutinho. Têm uma filha com 13 anos. Telmo "acusa-a" de ter atraiçoado a memória de seu amo (D. João), contribuindo para que se adensem os terrores e as angústias de Madalena;
  • O Sebastianismo: Maria entra em cena, impulsiva, exprimindo o desejo de que D. Sebastião regresse para salvar Portugal do domínio castelhano, sem saber que isso poderia implicar o regresso do primeiro marido de sua mãe e consequente desonra da família;
  • A crença em agouros, superstições, "sonhos"/ delírios: Maria;
  • O "mensageiro": Frei Jorge, irmão de Manuel de Sousa, avisa que os governadores castelhanos têm a intenção de ir procurar "alojamento" em Almada, naquela casa. Maria, em particular, repudia esse acolhimento;
  • A doença de Maria: comentários preocupados sobre a sua "fina" audição, sintoma da tuberculose que a afeta. É ela a única que ouve a voz de seu pai que está de regresso a casa;
  • O nacionalismo: Manuel, já em sua casa, ordena que todos a abandonem, para que, assim, não tenham que ser anfitriões dos castelhanos. A alternativa é procurarem abrigo no palácio onde Madalena morou com o primeiro marido. Maria concorda e incentiva, entusiasmada, esta atitude de rebeldia de seu pai;
  • Terror crescente de Madalena: para ela, o regresso a essa casa é prenúncio da desgraça que sempre temeu. Manuel considera infundados os terrores da mulher e avança com a sua decisão;
  • Final "apoteótico" e espetacular do I Ato: com a chegada imprevista dos governadores castelhanos, Manuel de Sousa obriga todos a sair e incendeia a sua própria casa.

-- Romantismo: emotividade de D. Madalena; citações de Camões (de Os Lusíadas);a crença em agouros e superstições (Maria e Telmo); a fragilidade e sensibilidade "doentias" de Maria; o Sebastianismo; a resistência ao domínio castelhano; espetacularidade da cena final do I Ato, o incêndio do palácio. A linguagem e o estilo refletem o turbilhão de emoções que afeta as personagens: apóstrofes, interjeições, frases exclamativas e interrogativas, repetições, reticências.

-- Classicismo: os momentos que marcam a inevitabilidade da tragédia.

Presságios que se confundem com os agouros; aproximação do pathos e do climax; adivinha-se a mudança, a peripateia; o desafio de Manuel de Sousa às autoridades instituídas e de Maria, que, sem ter consciência, apela a "um regresso ao passado"( hybris); ela é a vítima inocente sobre a qual a fúria inexorável do Destino se irá abater. No I Ato, Manuel de Sousa representa o racionalismo dos clássicos pelo modo como (ainda) controla as suas emoções.

janeiro 28, 2013

Tragédia ou Drama?

O Frei Luís de Sousa é uma tragédia porque:

  • as personagens desafiam o Destino (hybris): Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho sem ter a certeza de que o primeiro marido está morto e Manuel incendeia o seu palácio para não receber os governantes castelhanos;
  • o sofrimento e a aflição das personagens vai-se acentuando, à medida que a ação progride (clímax e pathos) e atinge também os “inocentes” (Maria, a filha);
  • há uma mudança repentina na ação (peripateia –“peripécia”), desencadeada por alguém que vem de fora, sucedendo o “reconhecimento” (anagnorise): o Romeiro é identificado como D. João de Portugal, o primeiro marido de D. Madalena;
  • a partir deste momento, é impossível evitar a “catástrofe”(katastrophé): as consequências terríveis que atingem todos os que estão próximos de quem desafiou o Destino;
  • Maria morre e os pais “morrem para o mundo”, vão para o convento;
  • a catharsis (purificação) é feita pelo despertar no público de dois sentimentos: o terror e a piedade( referidos por Almeida Garrett na Memória ao Conservatório Real);
  • Telmo e Frei Jorge têm um papel semelhante ao do Coro das tragédias gregas, tentando confortar as personagens.

O Frei Luís de Sousa é um drama romântico porque:

  • a ação decorre numa época histórica de resistência, de afirmação e defesa do nacionalismo (século XVII, perda da independência, ocupação castelhana);
  • remete para a crença no mito do Sebastianismo: D. Sebastião tinha “desaparecido” em Alcácer- Quibir e o seu regresso era a esperança que restava para a recuperação da independência de Portugal;
  • referências várias a Camões, poeta de expressão do patriotismo;
  • afirmação constante do nacionalismo, com a rejeição da presença dos castelhanos em território português;
  • crença no regresso do morto-vivo, “personagem” de inspiração medieval (D. João de Portugal);
  • expressão hiperbólica de sentimentos, de estados de alma, frequentemente contraditórios e caóticos;
  • crença em agoiros, superstições, simbologia premonitória dos sonhos (Madalena, Maria e Telmo);
  • o cristianismo: Madalena e Manuel encontram o conforto na crença em Deus e na ida para o convento, em vez da morte violenta das tragédias;
  • uso da prosa ( e não o verso, como era habitual na tragédia);
  • divisão em três Atos ( e não os cinco da tragédia);
  • não existe unidade de tempo nem de espaço: a ação não decorre em 24 horas nem no mesmo lugar;
  • linguagem que exprime os estados de espírito das personagens: apóstrofes, frases exclamativas e interrogativas, frases inacabadas (com reticências), hipérboles……

janeiro 24, 2013

Quem foi Frei Luís de Sousa?

Capa de edição antiga
Frei Luís de Sousa - Manuel de Sousa Coutinho (c.1555 - 1632)

Escritor e sacerdote português, natural de Santarém. Mudou de nome ao ingressar na vida religiosa, em 1613, como era prática usual nas ordens religiosas.
Foi nomeado cavaleiro da ordem de Malta por volta de 1572, tendo estado cativo em Argel e viajado pelo Oriente e pelas Américas. Esteve ao serviço de Filipe II e casou com D. Madalena de Vilhena, mulher de D. João de Portugal, que desaparecera na batalha de Alcácer Quibir. Em 1559, havia sido nomeado capitão-mor de Almada.
Nesse mesmo ano, destruiu o seu palácio pelo fogo, não permitindo assim que os governadores do reino, fugindo à peste de Lisboa, nele se refugiassem.
Em 1613, Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena decidiram professar — ele, no convento de São Domingos, em Benfica, e ela, no convento do Sacramento. Um biógrafo atribuiu esta decisão à notícia de que D. João de Portugal se encontrava, afinal, vivo, tornando ilegítima a união do casal.
Escreveu vários livros, destacando-se a Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires e História de São Domingos.

Foi na vida "misteriosa" deste homem que Almeida Garrett se inspirou para escrever o Frei Luís de Sousa.

.
Não esquecer que:


O Frei Luís de Sousa foi escrito no século XIX por Almeida Garrett,


mas a ação decorre no século XVII.

janeiro 17, 2013

Frei Luís de Sousa: Memória ao Conservatório Real

Da leitura de excertos da "Memória ao Conservatório Real", no Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, destaco os seguintes tópicos:

  • Busto de Almeida Garrett, no átrio do Teatro D. Maria II
    os factos históricos portugueses são marcados pela simplicidade;
  • essa simplicidade é solenemente trágica e «moderna» (romântica);
  • na história do Frei Luís de Sousa, há simplicidade trágica, mas há, também, o espírito do Cristianismo que suaviza o desespero das personagens: em vez de uma morte violenta, “morrem para o mundo”, entregam-se a Deus;
  • da tragédia não usa o verso, preferiu a prosa, talvez para não “ofender” a memória de Frei Luís de Sousa, ele próprio um dos melhores prosadores da língua portuguesa;
  • consequentemente, se, na forma, esta obra é um drama, na «índole», considera-a uma tragédia antiga;
  • uma ação muito “simples”, sem paixões violentas: poucas personagens, todas elas genuinamente cristãs , sem um “vilão”, sem assassínios, sem “sangue”;
  • sem estes “ingredientes”macabros, tão usados na época para captar o interesse das plateias, Garrett quis verificar se era possível despertar, nesse público ávido de emoções fortes, os dois sentimentos únicos de uma tragédia: o terror e a piedade;
  • no entanto, considera a sua peça “apenas” um drama, porque, tal como a sociedade, a literatura ainda estava em “construção”: a literatura reflete, mas influencia, também, a sociedade;
  • afirma, porém, que não se sentiu obrigado a respeitar a verdade histórica, mas sim a “verdade” poética;
  • e justifica essa opção, caracterizando a sua época, o século XIX, como «um século democrático; tudo o que se fizer há-de ser pelo povo e com o povo…ou não se faz.»;
  • a verdade encontra-se no passado histórico, porque é “o espelho” do presente: só assim o leitor apreciará, porque só assim entenderá – «é preciso entender para apreciar e gostar».

janeiro 13, 2013

A ideologia romântica

O Romantismo, uma nova visão do Homem e do Mundo:

Alcochete
 
  • valorização do Eu, do indivíduo e da sua espontaneidade;
  • a Emoção deve sobrepor-se à Razão;
  • insatisfação, a ânsia de Absoluto, a nostalgia por algo de distante, vago e indefinido;
  • consciência dos problemas político-sociais e vontade de neles participar ativamente: a defesa dos princípios da Igualdade, Liberdade e Fraternidade;
  • o herói romântico é concebido como um rebelde, incompreendido, (auto)marginalizado, que se insurge contra tudo o que o oprime;
  • os sentimentos privilegiados são: a tristeza, a melancolia, o gosto pelo sofrimento, a busca da solidão, o desejo da morte como libertação;
  • atração pelo sobrenatural, pelo mistério;
  • crença em agoiros e superstições, gosto pelas tradições, lendas e mitos;
  • o gosto pela Noite, pelo sombrio, pelo macabro: o locus horrendus;
  • o nacionalismo e o patriotismo;
  • a religiosidade cristã;
  • a evasão (fuga) da realidade:-no espaço: gosto por países distantes, exóticos, misteriosos;-no tempo: valorização do passado, nomeadamente a Idade Média;-através do sonho e da imaginação;
  • simplificação da linguagem e do estilo.


janeiro 10, 2013

O Romantismo

Para entender o Romantismo, é necessário conhecermos os factos político-sociais que influenciaram a mudança de visão e de atitude perante o Homem e o Mundo, ainda no século XVIII, na Europa, no século XIX, em Portugal.
  • Alcochete, pôr do sol.
    a Revolução Industrial, em Inglaterra;
  • a Revolução Francesa, em França (1789);
  • a Revolução Liberal, em Portugal (1820): opõe Liberais e Absolutistas, representados, respetivamente, por D. Pedro e D. Miguel. Durante cerca de 30 anos, o país viveu em guerra civil.
 

Consequências:
  • ascensão da burguesia;
  • democratização da cultura e do livro;
  • defesa dos ideais da Liberdade, Igualdade e Fraternidade;
  • queda dos regimes absolutistas.