abril 17, 2012

Os Maias: capítulos VII a XII




Corridas no hipódromo de Belém - último quartel do séc. XIX
in:Iconografia de Os Maias
VII Capítulo
• Dâmaso Salcede, personagem tipo, que representa o novo-rico, consegue apresentar-se a Carlos, mas também tornar-se indesejável, devido ao seu comportamento exibicionista;
• a Condessa de Gouvarinho visita Carlos no consultório;
• informações dos amigos a Carlos sobre a misteriosa mulher que tanto o impressionara.

Comentário:
• Capítulo que remete, sobretudo, para a crítica social.

VIII Capítulo

• Carlos e Cruges vão a Sintra à procura da “Mulher”;
• encontram Eusebiozinho, já viúvo, com um amigo e duas prostitutas espanholas;
• Carlos tem notícias dessa mulher, casada, e de quem o Dâmaso já se tornara muito amigo.

Comentário:

  • crítica ao comportamento previsível de Eusebiozinho: a educação religiosa, “beata”, desencadeia atitudes de hipocrisia e de degradação moral.

IX Capítulo

• alguns pormenores que se integram no domínio da crítica social, sobretudo o comportamento das mulheres.

Comentário:

• mais uma vez, a crítica às mulheres da alta burguesia lisboeta.


X Capítulo
• destaca-se o episódio da corrida de cavalos e a atitude dos portugueses que frequentam esse tipo de evento social;
• tal como no jantar do Hotel Central, tudo termina com uma desordem pouco adequada à situação e ao estatuto social de quem está presente.

Comentário:

• crítica ao modo como as pessoas se apresentavam, sobretudo as mulheres, com “vestidos de missa”(p 316), uma vez que não estavam habituadas a este género de evento, tipicamente inglês: “um canteirinho de camélias meladas”(p 317);
• Afonso da Maia, na sua posição distanciada, já comentara que “o verdadeiro patriotismo[...] seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada.”(p 308);
• crítica aos portugueses que têm o hábito de imitar o que era estrangeiro, mas, como não era genuíno, “desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro…” (p 325);
• caracterização do espaço social.

Capítulo XI

• Carlos, pela primeira vez, fala com "a tal" mulher, Maria Eduarda, passa a visitá-la com assiduidade e trocam confidências;
• percebe que Dâmaso, supostamente, como já lhe tinham dito, se tinha tornado, também, íntimo da casa.

Comentário:

• a semelhança dos nomes, Carlos Eduardo e Maria Eduarda: “Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!” (p 346);
• Maria repudia Dâmaso, o que explica comportamentos posteriores.


Capítulo XII
• Carlos e Maria Eduarda tornam-se amantes;
• Carlos aluga a Craft a casa dos Olivais, "A Toca", onde poderão viver, discretamente, a sua paixão.

Comentário:

• momento da intriga em que as personagens desafiam o Destino, hybris, ignorando, como nas tragédias, quem são e as consequências futuras. 

abril 11, 2012

Capítulo VI: Os Maias

Hotel Central, Praça Camões
 
VI Capítulo

  • jantar de homenagem a Cohen (o banqueiro judeu) no Hotel Central;
  • Carlos cruza-se com uma bela desconhecida quando entra no Hotel;
  • nesse jantar revelam-se outras personagens “tipo”: Alencar, poeta Ultra-Romântico, que tinha sido amigo dos pais de Carlos; o Craft, um inglês que há muito vivia em Portugal; Dâmaso Salcede, o novo-rico;
  • o jantar termina com uma briga;
  • já em casa, Carlos recorda o passado,como ficara a conhecer a história da mãe e do pai e adormece, evocando a visão da mulher que tanto o tinha impressionado. ......................................................................................................................................
Comentário:

Este é um dos Capítulos mais importantes, porque nele se cruzam os dois níveis da obra: o da intriga e o da crónica de costumes.

A intriga:
  • presságios: Ega, em conversa com Carlos (antes do jantar) diz-lhe que ele há-de vir a “acabar desgraçadamente[…] numa tragédia infernal”( p 152);
  • a mulher com quem Carlos se cruza é como uma “deusa” envolta em mistério (p 157);
  • no final do Capítulo, o sonho de Carlos, após ter recordado o seu passado familiar, remete para esta mulher, sonho premonitório.
A crónica de costumes:
  • o comportamento e a linguagem pouco adequados da alta burguesia lisboeta que quer parecer muito civilizada e cosmopolita;
  • a oposição entre o Ultra-Romantismo retrógrado(Alencar) e o Realismo/Naturalismo(Ega), ambos exagerados.
  • espaço social: o Hotel Central, onde desfila esta galeria de tipos sociais.

abril 09, 2012

Recomeço: Os Maias, continuação. Capítulos II a V

Rua das Janelas Verdes
in Iconografia queirosiana
II Capítulo:
  • casamento de Pedro e Maria Monforte (“felicidade de novela”);
  • os dois filhos, Maria Eduarda e Carlos Eduardo;
  • fuga de Maria com o príncipe italiano, levando consigo a filha;
  • Pedro fica com o filho, regressa a casa do pai e suicida-se.
Comentário:
  • a crítica ao comportamento das mulheres: Maria foge, devido à leitura de romances românticos, que deturpavam a visão que as mulheres tinham da realidade;
  • até o nome do filho, Carlos Eduardo, tinha sido escolhido por ser o de um herói de um romance, com uma vida de "aventuras e desgraças" (presságio);
  • Pedro suicida-se, como era de esperar, devido ao seu temperamento neurótico (hereditariedade) e educação tradicional, “beata”.

III Capítulo:
  • Afonso retira-se para Santa Olávia com o neto e, aí, tem a preocupação de lhe dar uma educação à inglesa: ar livre, ginástica, inglês (“mente sã em corpo são”);
  • em oposição, a educação de Eusebiozinho, tradicionalmente portuguesa e “beata”.

Comentário:
  • a oposição entre os dois tipos de educação revela, mais uma vez, a crítica à educação tradicionalmente portuguesa.
IV Capítulo:
  • Carlos vai estudar para Coimbra, forma-se em Medicina;
  • torna-se amigo de João da Ega, o "escritor", personagem que representa o Realismo/Naturalismo;
  • quando acaba o curso, viaja pela Europa e o avô já o esperava em Lisboa, no Ramalhete;
  • o consultório é mobilado luxuosamente;
  • Ega prepara o seu grande livro, Memórias de Um Átomo.
Comentário:
  • termina a analepse que se iniciara no I Capítulo e o tempo cronológico volta a ser 1875;
  • alguns pormenores são já significativos em termos de crítica e de caracterização da personagem: o luxo excessivo do consultório de Carlos não se coaduna com o exercício da Medicina;
  • Ega começa a escrever o livro de que se falava desde os seus tempos de estudante (será que alguma vez vai terminar essa “Bíblia”?).
V Capítulo:
  • O Ramalhete e a vida social da família Maia e da alta burguesia de Lisboa: espaço social;
  • apresentação de várias personagens “tipo”: o Cruges, pianista falhado; Steinbroken, o embaixador finlandês; a Raquel Cohen, amante do Ega; a Condessa de Gouvarinho que Ega “recomenda” a Carlos.
Comentário:
  • a crítica social torna-se mais corrosiva, em particular, no que diz respeito ao comportamento das mulheres (o adultério);
  • as causas são: a leitura de romances românticos, a ociosidade e consequente tédio.