Vos
estis sal terrae
Sé de Lamego (foto minha) |
Vós sois o sal da
terra: os pregadores são o sal, a terra os
homens.
O sal
impede que os alimentos se estraguem;
Os
pregadores impedem a corrupção;
Mas a
terra está corrupta/ "estragada"--- de quem é a culpa?
Pode ser
atribuída a duas causas: o pregador não prega em condições a palavra de Deus/ a
terra não "ouve" a palavra do pregador.
O raciocínio é
lógico, desenvolvido como se fosse um silogismo:
premissas e conclusão. ( Todo o homem é
mortal/ Sócrates é homem=» Sócrates é mortal).
Expansão/
amplificação do argumento:
Os pregadores não
"salgam" porque:
-
não pregam a verdadeira doutrina; ou
-
dizem uma cousa e fazem outra; ou
-
se pregam a si e não a Cristo.
A terra
não se deixa "salgar" porque:
-
os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber; ou
-
os ouvintes querem antes imitar o que eles[pregadores] fazem, que fazer o que dizem; ou
-
os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites.
Veja-se,
então:
-
a construção anafórica, "simétrica", paralelística:" ou é porque.. ou é porque...."
-
a utilização dos conectores disjuntivo e causal: "ou..ou"; "porque";
-
a antítese que se gera a partir do desdobramento das hipóteses: os pregadores não pregam# os ouvintes não "ouvem".
Toda esta
argumentação foi desencadeada por uma interrogação
retórica:"...qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?",
através da qual capta a atenção do auditório/público, tornando-o interventor do
discurso, como que apelando à sua aproximação e presença. Não esquecer que se
trata de um discurso de 2ª pessoa ( pronome pessoal,
plural: vós).
Termina
este 1º parágrafo, em crescendo prosódico, em
"euforia", novamente com uma interrogação retórica: "Não é tudo
isto verdade? " para, seguidamente, na resposta, haver uma quebra rítmica com
uma resposta breve, abrupta e exclamativa: "Ainda mal!"
De
destacar, ainda, o uso sucessivo da vírgula, o
assíndeto, que torna quase hipnótica e "pendular" a
enumeração dos argumentos, num ritmo
gradativo.
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