outubro 09, 2012

A Retórica e o Sermão

 

Eloquência é, segundo a definição comum, a arte de bem falar. O orador deverá, então, cumprir as regras da eloquência: docere, isto é, ensinar, explicando e expondo argumentos; delectare, isto é, agradar, deleitar, captando o agrado e a atenção do auditório, de modo a não causar aborrecimento; movere, isto é, comover, apelando às emoções e tentando "tocar" os sentimentos do auditório.
Na Filosofia, segundo Aristóteles, para persuadir e cativar o auditório, o orador deve ter em atenção três aspetos: o ethos, o logos e o pathos, que correspondem aos conceitos acima enunciados.
O ethos recomenda que o orador, através do seu exemplo e caráter, seja valorizado pelo auditório; o logos pressupõe que os argumentos sejam bem estruturados, fundamentando a tese apresentada, para que seja compreendida e aceite pelo auditório; e, finalmente, o pathos, através do qual o orador conseguirá sensibilizar as emoções do auditório, no sentido de provocar a sua adesão.
Verificamos, então, que estes conceitos coincidem, os primeiros do latim, os segundos do grego: logos (pensamento)--» docere(ensinar); pathos (patético)--» movere (comover); (??)ethos (ética)--» delectare(deleitar).
O padre António Vieira afirma isto mesmo, a propósito do que deve ser o comportamento do pregador, logo no exórdio, e assim vai estruturando o seu Sermão, um texto argumentativo, obedecendo às regras clássicas da Retórica:
«Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário.»
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in Sermão de santo António aos peixes, I Parte

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