novembro 24, 2011

Trabalhos dos alunos

Desenho da aluna
Perspetiva de um Escravo Negro do Século XVII
Venho discutir o que já muito foi discutido por anteriores maiores que eu, cujo assunto é, de acordo com o Papa Pio II, magnum scelus, um grande crime. Se escrevo, agora, este texto, foi porque meu senhor, a quem ainda quero muito, me ofereceu a língua e a escrita daqueles que me roubaram a terra que devia pisar e que já não piso. E inúmeros são aqueles que, tendo sido furtados da sua terra, também já não podem pisar aquele que devia ser seu piso. Concedeu-me a liberdade, o meu senhor, horas antes de partir, quando, com um pano molhado em devoção, lhe limpava a fronte fervente. Mas há quem, só com a morte, consiga essa mesma libertação.
Se Deus dita este trágico destino que é serventia a quem mais paga pelo nosso laborar, mas não ao trabalhador e sim àquele que nos mercou, não somos nós mais que animais pertences do homem? Se assim é, do mesmo modo se justifica a nossa falta de salário após toda uma vida de escravo dedicado, pois quem paga moedas de oiro ao boi que ara o terreno?
Mas onde estão os chifres que eu não os posso ver, e o pesado andar bovino de quem não pode amar ou odiar o seu dono, de quem não pode beijar os anéis da mão do amo, ou fugir da sua cativa prisão? Não somos nós bois ou jumentos para ser tratados como seu igual.
Então porque somos mercadoria do ladrão que nos rapta daquele (África) que é nosso lar de origem? Porque somos forçados a pisar a mesma terra que o usurpador? Apenas porque não outra há para pisar, porque a nossa fica para lá desse mar.
Tal como vocês, que seguram o chicote, também gatinhamos à nascença, para depois, passarmos a enfrentar o mundo erguidos, também bebemos a mesma água, também olhamos as mesmas estrelas, também choramos as mesmas lágrimas salgadas de dor e de felicidade, e se pegaram no punhal e nos marcarem a pele com golpes (o que certamente muitos já fizeram) verão que o sangue que escorre da ferida é tão vermelho como o vosso. Pergunto, então, porque se dão os acontecimentos antitéticos a que somos expostos todos os dias. Porque se cobre o senhor de colares e pratas, quando o único metal em que tocamos é o das correntes que adornam os nossos pescoços? Porque comem os senhores as iguarias que, sendo património da nossa terra, nem a nós é concedido o direito de as provar? Porque veste o senhor tecidos e roupagens do mais caro linho fiado, quando nós não envergamos mais que o ar que respiramos? Porque, cometendo o senhor os mesmos pecados, não é ele castigado da mesma maneira que nós?
E mais, porque defendem os padres e pastores os nossos irmãos índios (irmãos, porque todos somos filhos do mesmo Adão e da mesma Eva) que sofrem o mesmo destino, mas que parecem merecer mais cuidado? Somos pois indignos demais para que, já que não nos conseguindo fazer ouvir sozinhos, alguém nos ajude a acordar o mundo desta injusta dormência? Será pois esta cor escura, que a diziam tão exótica os primeiros brancos ao avistarem  África, a marca da nossa maldição, e a dos nossos filhos e a dos nossos avós? 

  Nenhum senhor devia ter escravos, porque senhor a quem todos os homens, sem ressalvas, devem servir, só há um, e esse se senta na sua cátedra celeste...

Da Alice, 11º B

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