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Capa da Revista Tabacaria, nº 5, Inverno de 1997 |
novembro 27, 2012
Poesia de Fernando Pessoa
Podem fazer o download gratuito de algumas das obras de Fernando Pessoa, AQUI
novembro 26, 2012
Para ler e ...refletir
Do Sermão de Santo Antônio aos Peixes, V Parte
O Polvo:
O Polvo:
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão
polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e
Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com
aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem
espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência
tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois
grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do
mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das
mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão
são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo
são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia,
faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como
mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que
sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado,
e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os
braços de repente, e fá-lo prisioneiro.
De Sophia de Mello Breyner, um poema:
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
(sublinhados meus)
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